sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Biografia do mestre Zé da Binel

José Serafim de Menezes, apelidado Zé de Binel, nasceu em 04 de abril de 1932, na cidade de Itabaiana-SE, num ano de muita seca e fome. Filho de Manoel Serafim de Menezes (Binel) e Maria Madalena de Menezes, em meio a uma família de 12 irmãos. Relata que na infância morava na Praça João Pessoa, no centro da cidade e que trabalhou fazendo carregos com carroça de mão na feira-livre, e que na época as feiras só ocorriam aos sábados. Com o dinheiro que ganhava por, “10 tostões” por mês, comprava caderno (pedra de escrever) e lápis (lápis de pedra). Estudou na Escola Guilhermino Bezerra, primeira escola pública da cidade, fundada em 1936. além de estudar no colégio, à tarde freqüentava a casa de Dona Carmelita onde tinha aulas de reforço. Para isso pagava uma quantia mensal com o dinheiro adquirido com os carregos a essa senhora.1
Zé de Binel conta que era um aluno esforçado porém, não estudou muito porque considerava que a escola empatava de trabalhar, que era o que ele gostava de fazer. Não se lembra até que série cursou, pois naquele tempo, diz ele, não era série, era ano. Lembra, ainda, que havia um livro denominado “Manuscrito” com o qual ele estudava a leitura. Quando esta era ruim, rasgava a página para não ler, mas os colegas viam, contavam à professora e ele era obrigado a ler outra.2
Com mais ou menos13 anos, deixou de trabalhar na feira para trabalhar junto a seu pai na Saboaria Santa Cruz, na qual era mestre. Lá conheceu Joãozinho Tavares que lhe falou da Chegança e o incentivou a montar um grupo na cidade. Alguns anos depois, na administração municipal de Euclides Paes Mendonça, conseguiu um emprego como ajudante de pedreiro na construção de pontes nos povoados da cidade. Por demonstrar ser ativo em seu trabalho, o mestre-de-obras o promoveu a fiscal de obras, cargo que exerceu durante 37 anos e 04 meses e com o qual aposentou-se.3
Quando se trata de sua vida pessoal, Zé de Binel demonstra-se reticente e pouco fala. Para se justificar, o mesmo diz que gosta mesmo de falar é da Chegança que “é a vida dele”. Contou-nos apenas que se casou três vezes e que tem 10 filhos. Atualmente é casado com Maria José de Jesus, com quem tem duas filhas. O mesmo foi candidato a vereador duas vezes pela legenda do PMDB e pelo PT, na última vez obteve 135 votos e acha que se fosse em uma cidade pequena teria conquistado o cargo. Diz que gosta muito de Itabaiana e se orgulha em ser filho da terra, contudo, tem um ditado que ele sempre repete: ”Itabaiana é uma boa mãe e uma má madrasta”. Afirma isso porque considera que o município deveria apoiá-lo mais e que a política interfere muito nos eventos culturais porque, cada governo que passa trata um determinado folguedo de forma diferenciada e isso causa uma desestabilidade nos grupos.4
Saudoso, relembra que Euclides Paes Mendonça o presenteou, dando-lhe toda o fardamento da Chegança e que foi nesse governo que o grupo teve mais apoio. Recorda ainda, das procissões de Bom Jesus dos Navegantes, nas quais a Chegança se apresentava a bordo do navio da Marinha percorrendo o Rio Sergipe. Também participou do Projeto Rondon, no Gonzagão; durante o governo de Godofredo Diniz e no de Lourival Batista, era comum apresentar-se na frente do Palácio do Governo, período este em que o Folguedo adquiria bons cachês. Considera que houve uma época em que os folguedos eram mais valorizados e demonstra-se frustrado ao lembrar de um convite que recebeu do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), para apresentar-se no programa de Sílvio Santos, mas por falta de apoio financeiro não foi possível ir.5
Houve uma época, nos diz José Serafim de Menezes, que ele “cismou” que a Chegança deveria ter um barco para que as apresentações fossem mais emocionantes e idealizou um modelo que se locomovia pelas ruas com o auxílio de rodas. Considera este, o tempo em que as pessoas eram mais atraídas pelas apresentações do Folguedo e o qual passava mais realismo ao público, mas houve um acidente em que um trator destruiu o barco e nunca mais outro foi construído. Quando perguntado por quê, Zé diz que desanimou por achar que foi de propósito e não acidente.6
Segundo José Serafim de Menezes, um dos principais obstáculos em manter viva a Chegança é a falta de um cachê fixo, uma vez que os componentes são pessoas pobres, alguns até desempregados e que, se tivessem uma remuneração permanente haveria mais dedicação e estimulo por parte dos mesmos. Apesar das dificuldades, o grupo submete-se a se apresentar nas escolas, mesmo sabendo que o dinheiro arrecadado entre os alunos não os satisfará, porém isto não se constitui um empecilho para que o grupo deixe de se apresentar e completa: “nós vamos como se a mesma vontade como se a gente fosse receber um bom dinheiro no final”. 7

Notas do artigo


1 Depoimento de José Serafim de Menezes, concedido a Wanderlei Menezes e Bruno Pereira, concedida em 05/06/2010.
2 Idem
3 Idem
5 Idem.
6 Ibidem
7 Idem.