sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Breve histórico do ABADÁ-CAPOEIRA


Abadá é um dos grupos culturais de Itabaiana que pratica a capoeira. O nome do grupo remete a sigla designativa para Associação Brasileira de Apoio e Desenvolvimento da Arte Capoeira. O presidente-fundador é José Tadeu de Cardoso, conhecido por Mestre Camisa. O grupo existe em 65 países.
Capoeira Abadá existe há 22 anos e tem sua matriz brasileira na cidade do Rio de Janeiro. Há filiais em todos os estados brasileiros. O Abadá capoeira está atuando no estado de Sergipe desde 1997.
Em Itabaiana, o grupo existe desde 2004, tendo como professor Josimar Santos Santana (graduado Bisão). Esse professor desenvolve projetos sociais em escolas, academias e comunidades carentes com o intuito de formar futuros atletas e profissionais na área da capoeira, pautados na cidadania com engajamento social.
O Abadá-Capoeira local conta com aproximadamente 80 componentes sobre a coordenação do graduado Bisão.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Dados sobre grupos culturais de Itabaiana


  • Reisado do Bom Jardim
Endereço: povoado Bom Jardim
Responsável: Maria Rosa de Santana
Contato: 9979-4218
Data de Fundação: 1991
Número de componentes: 26

  • Quadrilha Junina Balança Mais Não Cai
Endereço: Rua Coronel Sebrão, nº 424
Responsável: Salomão dos Santos
Contato: 9968-4785 ou 9974-6312
Data de Fundação: 15.06.1982
Número de componentes: 70

  • Chegança Santa Cruz
Endereço: Travessa Francolino Alves dos Santos, nº 298
Responsável: José Serafim de Menezes
Contato: 3431-4658
Data de Fundação: 10.04.1947
Número de componentes: 20

  • Grupo Capoeira Molas – Mestre Lucas
Endereço: Rua Maria Luiza Mendonça, nº 08 – Itabaiana-SE
Responsável: Lindomarcos Veloso Duarte
Contato: 9997-2320
Data de Fundação: 1997
Número de componentes: 35

  • Banda de Pífano “São José”
Endereço: Felisbelo Machado Menezes, nº 2375
Responsável: Valter Messias dos Santos
Contato: 9986-7086
Data de Fundação: 14.04.1995
Número de componentes: 06

  • Teatro da Encenação da Paixão de Cristo
Endereço: Povoado Mangabeira
Responsável: Vera
Contato: 9955-0400
Data de Fundação: 07.04.2000
Número de componentes: 70

  • Grupo de Dança Art Livre
Endereço: Rua Quintino Bocaiuva, 654 (Col. Estadual Murilo Braga)
Responsável: Dulce Maria
Contato: 9969-9523
Data de Fundação: 17.12.1992
Número de componentes: 10

  • Festejo do Mastro de São João
Endereço: Rua Coronel Sebrão, 20, Ap.02
Responsáveis: Jorge, Luci Meire e Luis Bispo
Contato: 3431- 3941
Data de Fundação: 1909
Número de componentes: Indeterminado

LENDAS E IMAGINÁRIO DA SERRA DE ITABAIANA


A região de Itabaiana tornou-se uma espécie de eldorado. A história das minas de prata da Serra de Itabaiana nunca descobertas sempre aguçaram o imaginário dos que passaram por Itabaiana.
A popularização das minas de prata deve se muito ao livro “Meu Sergipe: Ensino de História e Chorografia de Sergipe” de Elias Montalvão (1928), obra adotada pelas escolas públicas do estado, durante as primeiras décadas do século XX. Neste livro há um capítulo intitulado “O Thesairo”

... No Sertão do Rio Real, morava Belchior Dias Moreya.
Este homem fez uma excursão a várias paragens e descobriu ouro, prata, pedras preciosas e salitre.
Em seguida, espalhou a notícia de haver encontrado as minas e pretendia ser agraciado por el-Rei, com o título de Márquez das Minas.
(...) Governando Pernambuco estava D. Luiz de Souza que, tendo sciencia do grande descobrimento de Belchior, a este escreveu promettendo que ia se empenhar, a fimi de conseguir de el-Rei a mercê desejada.
D. Luiz de Souza escreveu depois a Belchior, dizendo já haver obtido a mesma e que estava de posse do título, para entregar-lhe quando elle mostrasse o local das minas.
(...) Em companhia de D. Luiz de Souza, foi também seu primo D. Francisco de Souza, governador da Bahia.
Ambos foram guiados e acompanhados por Belchior, ao qual, em caminho, um pagem particular de um dos governadores que, conversando estes sobre a mercê almejada, dissera um delles ao outro:
Mostre elle as minas, que o caboclo para quer mercê?
Chegaram todos à Serra de Itabaiana.
Ahi, disse Belchior que somente mostrava a logar das minas depois que recebesse o título“. (MONTALVÃO: 1928, p. 21).


A descrição feita por Montalvão foi baseada em documentos, mais precisamente na carta do Coronel Pedro Barbosa Leal (1725). De maneira simples as façanhas de Belchior Dias Moréia são narradas.
Em nível nacional, o romance “As Minas de Prata” de José de Alencar cita a da cobiça e o sonho das minas e muito tempo antes de Capistrano de Abreu, já se referiu a Belchior Dias Moréia, pai de Robério Dias, que teve seu nome relacionado aos feitos do pai:
Estas famosas Minas de Prata do Brasil, que tanto mal têm feito, excitando a cobiça de uns e causando a desgraça de outros, fazendo que reis esqueçam seus povos e sacerdotes, sua divina missão, foram achadas em 1587 por vosso avô, o Moribeca, de uma maneira que ainda hoje se ignora.
Ah! Não foi meu pai! (ALENCAR, 1959, p. 73)

O legado em longo prazo de tantas investidas produziu lendas, dentre as quais uma é de fundamental importância e é bastante representativa do poder dessas expedições no imaginário popular. É o caso de lenda do Carneiro de ouro. Bastante antiga, ela foi transmitida de geração a geração. Nesse sentido, o exercício do devaneio em torno de uma lenda que funciona como um elo com o natural, leva ao homem o dominar e ser dominado pela natureza, fonte de motivação e imaginário (LOUREIRO, 2001).
A transmissão das lendas, conforme LA PLANTINE (1999), são formas de tradição oral. No caso da lenda do Carneiro de Ouro mostra-se evidentemente ser um produto de uma sociedade que viveu o aventureismo, ocasionado pela cabeça.
Uma das descrições sobre a misteriosa Serra de Itabaiana e os ocultos tesouros nos oferece Clodomir Silva:
há de ouvir ainda hoje, em pleno século das maravilhas, as lendas do carneiro de ouro e da moça encantada que os atuais habitantes referem pelo as haverem ouvido de seus maiores, que lhes falavam do tempo em que a serra, estourando de 7 em 7 anos, fazia bater às portas do casario da cidade serrana, fragmentos de ouro volumosos e grandes” (SILVA, 1926, pág. 21). 
 
Já em Olímpio Rabelo (1926), a lenda é narrada um pouco diferente. Em uma dada hora do dia, o sol batia na frente da serra e, em seguida, aparecia se movendo uma figura amarelada, parecendo um carneiro de ouro. Segundo esse autor essa “figura” saia do limo das escarpas e o fato de haver muito limo não permitiu mais se ver o fenômeno.

A Igreja Velha de Itabaiana e tradições culturais



Qual o morador de Itabaiana que nunca ouviu falar da Igreja Velha? Uns dirão que é um povoado; outros, por sua vez, mencionarão que ai há uma igreja em ruínas num pasto. Porém, poucos sabem que aqueles escombros presenciaram importantes passagens de nossa História e que têm um valor simbólico incomensurável.

Nos primeiros anos do século XVII começa a haver a presença mais numerosa dos agentes metropolitanos da Coroa Portuguesa nas regiões próximas à Serra de Itabaiana. Esses homens vieram ocupar as terras outrora pertencentes aos nativos. Ao que tudo indica, eram pequenos lavradores, aventureiros em busca da fortuna fácil com as propaladas riquezas minerais da Serra de Itabaiana, criadores de gado, negros fugidos e etc. Foram eles os construtores da Igreja Velha. Não se sabe ao certo a data em que foi construído o primeiro templo cristão do agreste e sertão sergipano, mas certamente foi anterior a 1642, pois, no mapa do holandês Barleu, já aparecia a indicação, no mesmo local onde atualmente se situa a Igreja Velha, de uma igreja que tinha por orago Santo Antonio. Uma coisa é certa: A igreja Velha é a mais antiga construção legada por nossos antepassados ainda existente.

Os que visitam as ruínas da primeira igreja de Itabaiana percebem que o pequeno templo foi construído de modo bastante simples. As paredes foram feitas com pedras talhadas e argila como “cimento”. O telhado, ao que parece, deveria ser de palha e madeira. A Igreja foi erguida num local estratégico com privilegiada visão, próximo a fontes permanentes de água (nas proximidades dos rios Jacarecica e Lomba), e numa área central e elevada. O único objeto bem preservado do antigo templo de Santo Antonio é a imagem de Nosso Senhor da Coluna Verde, que se encontra salvaguardada num importante museu de nosso Estado.

O destino da Igreja Velha mudaria com a criação, em 1665, da Irmandade das Santas Almas do Fogo do Purgatório de Itabaiana. Como a rústica igreja era pertencente a particulares, a Irmandade resolveu comprar o terreno Caatinga de Aires da Rocha, dez anos depois de sua fundação, ao pároco da cidade de São Cristovão, Sebastião Pedroso de Gois, para construir um templo sobre seu comando.

Em 1675, existiam duas igrejas de Santo Antonio em Itabaiana: a velha e a nova – esta última se tornará a Matriz de Santo Antonio e Almas de Itabaiana. No ano anteriormente citado, a recém criada igreja ganhou a condição de freguesia. Essa trama arquitetada pela Irmandade foi o golpe crucial para o crescente esvaziamento de importância do primeiro templo cristão das plagas serranas. Em 1757, a Igreja Velha já estava em ruínas. Como o tempo implacavelmente deforma as formas, o primitivo templo foi paulatinamente desabando. A Igreja Velha vive sua agonia silenciosa há quase três séculos e meio. O velho templo resistiu a tantas adversidades e se mantém de pé, esperando ser tombado para não tombar. A tradição popular explica esse fenômeno histórico de perca de importância da Igreja Velha pela Igreja de Santo Antonio e Almas pela lenda de Santo Antonio fujão.

Atualmente, há em Itabaiana várias igrejas cristãs dos mais variados cultos, quase uma por bairro ou povoado, mas a Igreja Velha é especial por um simples motivo: foi com ela que tudo começou.

Cantos da Chegança



De acordo com Beatriz Góis Dantas, a análise da música da Chegança apresenta problemas especiais ao pesquisador. A fonte ibérica é facilmente percebida nas letras e na estrutura melódico-rítmica de várias canções. Difícil, porém, é determinar quais destas são realmente derivadas de canções ibéricas. A autora apresenta vários tipos de canções que podem ser indicados: canções baseadas em ou influenciadas pelo cantochão; canções de caráter melódico-rítmico europeu; canções folclóricas de origem definitivamente brasileira; canções de fonte erudita ou canções compostas.1
Dentre estes, podemos afirmar que as melodias cantadas pelo grupo da Chegança Santa Cruz de Itabaiana-SE, encaixa-se no tipo de “canções folclóricas de origem definitivamente brasileiras” pois, percebemos em Zé de Binel uma facilidade em criar, recriar versos e adaptá-los para as encenações. Tal afirmativa é comprovada quando o mesmo nos relata que observou um erro na melodia apresentada pelo grupo Marujada da cidade de Laranjeiras-SE, no qual o comandante tirava o seguinte verso:
“Olho para o Leste e vejo uma nuvem regassar,
acuda meu comandante que a Nau vai pirigar”.
Para justificar o erro da expressão em destaque no verso, seu Zé nos explica que é impossível uma “nuvem regassar”, e que o correto é:
“Olho para o Leste e vejo uma nuvem se formar,
acuda meu comandante que a Nau vai pirigar”.2
Essa correção foi observada e feita em vários outros versos durante uma competição ocorrida no Espaço Cultural Gonzagão – Aracaju-SE, que contou com a participação de vários outros grupos folclóricos, na qual a Chegança Santa Cruz ganhou premiação máxima. Ao criar os cantos, ele encaixa novas rimas nas melodias com pequenas modificações.3
Assim, nascida de forma simples, humilde, sem nenhum aparato técnico a música folclórica pertence à comunidade que a faz sobreviver. E a sobrevivência se faz pela transmissão oral e práticas sem conceitos ou teorias. Ao se transmitir, ocorrem modificações, fonte de inovações e de contribuição do povo. Às vezes essa chamada contribuição coletiva parte de um indivíduo, geralmente um condutor autêntico do folclore, que é aceito pelo grupo e a partir daí se incorpora à contribuição musical já existente, perdendo no futuro o caráter de contribuição individual, passando para coletiva.4
A seguir apresentamos algumas canções da Chegança Santa Cruz de Itabaiana-SE, colhidas de Zé de Binel, destacando partes da encenação e o ritmo em que cada uma é cantada:


Título da Chegança – marcha batida
Quando bater a meia-noite
Vou dar ordem aos marinheiros
Para atracar o vapor.
Mas quando Santa Cruz chegou
Aqui no porto não atracou
Eu vou falar com o almirante 2x
Que é o nosso comandante 2x
Para atracar o vapor. 2x
Ai, sim senhor, meu comandante
Agora venho lhe avisar
Santa Cruz chegou no porto 2x
Mas a polícia marítima não deixou atracar. 2x

O embarque - Marcha ligeira
Vamos depressa, vamos embarcar 2x
Que o navio está no porto
não podemos demorar 2x
Meu comandante devo autorizar? 2x
A saída do navio pois queremos viajar 2x
Embarca, embarca, embarca logo 2x
Que a hora é essa 2x
Tocou o apito, 2x
Já tocou o apito.
Embarca depressa 2x
Meu comandante mandou embarcar
Puxa o ferro marinheiro 2x
Veja logo se arranca 2x
Com 10 metros de fundura 2x
Aí, pouca força não levanta 2x
Eu não quero saber disso 2x
Que eu também disse puxar 2x
Só desejo vê agora 2x
Esse navio viajar que governa o leme
Sou um piloto
Vê se não treme lá em alto mar
Passa essa noite, o dia amanhece
Tudo obedece ao meu navegar.

Marcha de despedida – embarque –
marcha ligeira
Tamos cientes que vamos para a guerra 2x
Deixando a nossa querida terra 2x
Meu comandante nós vamos para a guerra
Deixando a nossa querida terra.
Tamos cientes que vamos para a guerra 2x
Deixando a nossa querida terra.
Capitão-piloto nós vamos para a guerra. 2x
Deixando a nossa querida terra.

Piloto bêbado – marcha pulada

Capitão, piloto para onde estar olhando? 2x
Por causa de sua cachaça todos nós estamos chorando 2x
Homem prudente o que é que você quer? 2x
Deixe eu tomar minhas cachaças até quando Deus quiser 2x
Capitão-piloto quando deixa de beber?
Quando morrer.
Por causa de sua cachaça todos nós vamos sofrer.

Cozinheiro – marcha batida

Todo mundo tem sua hora
Na vida para descansar
O pobre do cozinheiro, coitado
Disso não poder gozar.
O piloto cheira a cravo
Capitão-tenente a canela
O pobre do cozinheiro, só cheira
A lodo e carvão de panela. 2x
No trabalho da cozinha
Eu tenho toda a competência
Sempre dou a bóia pronta, na hora
O patrão pode dar providência.
Todo mundo tem sua hora
Na vida para descansar
O pobre do cozinheiro, coitado
Disso não poder gozar.

A nau-perdida – marcha lenta

(reclamação do patrão com o piloto)
Falei-me nossa Senhora ou Virgem da Conceição 2x
O piloto embriagado
Perde essa aí embarcação
Patrão – Prometa vós virgem pura
Se esse navio salvar
De festejar vosso dia
Quando em terra chegar.

Oração do desespero – verso

Lá no porto se virar
Pensava vim uma marcha espantosa
Que causou admiração
Logo no primeiro banco
Esse navio bateu
Aí eu me ajoelhei
E fiz a minha oração
Valei-me Deus de Israel
Ele queria me ajudar
E logo-logo de repente
Vamos entrar na barca
Viajei setenta e cinco dias meu comandante
Somente a imaginar
Mas vim satisfeitamente
De ver o piloto
Sempre na guia de leva-mar.

Milagre da Virgem – marcha batida

Milagre da Virgem Maria 2x
Tá vendo a grande lida 2x
Era chuva, era nau, era vento 2x
Nas ondas do mar
Caminhos da vida.2x

Piloto bêbado – marcha batida

Oi, vamos todos com alegria
Lá pra barquinha de Noé
Agradecer a salvação
A Jesus e Maria José
Vamos todo com alegria
Pois lá na barquinha de Noé
Tem dois anjos querubins
Foi que me ensinou a cantar
Aí, viva ao senhor do Bomfim
Oi, lá barquinha de Noé
Vamos todos sem demora
Agradecer a Jesus e Nossa Senhora.

 

Na porta da Igreja - Marcha batida

Louvai Virgem do Rosário,
Senhora dos Navegantes
Acuda que a nós marujos
Dos perigos do levante
Ajuda que a nós marujos 2x
Sempre seja triunfante 2x
Louvemos, louvemos, louvemos
A quem viemos louvar
É a Virgem do Rosário 2x
Ela nos quer ajudar. 2x

Parte do piloto

Marinheiros?
Senhor!
Viva a mãe Deus do Rosário
Viva!
Um dia eu vindo viajando
Nesse camarote de proa
Essa nau vinha marchando
Do sul ao norte
Ouvir uma voz dizer
Acuda meu contra-mestre
Acordei muito vexado
pensei que fosse turbuzana
E fui saber o que era,
Era a voz de dois marinheiros
Vinham dormindo e acordaram
Atordoados, nisto quis saber o que era
Eu fui a proa, mandei ferrar todas as velas,
Barra e venteira, gulacho alto, gulacho baixo
O homem que não tem ciência meu comandante,
Não pode ser imperial
Não sobe, não desce e nem alargar

Autorização para o embarque

Marcha ligeira

Hora adeus pela Lisboa
Eu já vou me retirando
Santa Cruz estar no porto e atalaia está chamando 2x
         Quando vai chegando a noite
que essa nossa nau naufragou
Chora as mães pelos seus filhos, ai meu Deus que grande dor
Hora adeus pela Lisboa
Eu já vou me retirando
Santa Cruz está no porto e atalaia está chamando 2x
Ninguém viu do que eu já vi de ontem para anteontem
Duas beija-flores de ouro
lá no peito do comandante 2x
Hora adeus pela Lisboa
Eu já vou me retirando
Santa Cruz está no porto e atalaia está chamando 2x
Chora as mães pelos seus filhos,
A mulher por seu marido,
irmãos pelos irmãos e chora as moças por seus queridos.

Despedida - Marcha ligeira

Adeus meu povo todo
Todos passem muito bem
Que a mourama vai embora 2x
Porque é cristão também 2x
Todos passem vida boa
Que a mourama vai embora 2x
Pra capital de Lisboa 2x
Todos passem com alegria
Que a mourama vai embora 2x
Pra capital da Turquia. 2x
         Meu general eu bem vos dizia
Que preparasse a artilharia
Já preparei toda a artilharia
Meu comandante marche como um guia
Capitão-piloto eu marcho como um guia
Capitão-piloto eu bem vos dizia
Que preparaste toda artilharia
Já preparei toda artilharia
Meu general marche como um guia.5


Rito do batizado - Marcha ligeira
Eu te batizo mouro,
         pela lei da Santa Cruz
Depois de batizado mouro pertence a Jesus 2x
Quem era como nós era
Mouro de lá da Turquia
Já hoje somos cristãos acabou-se a fidalguia.



Notas do artigo
1 DANTAS, Beatriz Góis. Cadernos de Foclore nº 14: Chegança. Rio de Janeiro: s/ed., 1985. p. 07-08
2 Depoimento de José Serafim de Menezes, concedido a Wanderlei Menezes e Bruno Pereira Itabaiana, 03 de junho de 2010.
3 Idem.
4 ALENCAR, Aglaé D’Ávila Fontes de. Folclore e Educação Musical. In: Encontro Cultural de Laranjeiras 20 anos. Governo do Estado de Sergipe: Secretaria Especial da Cultura, 1994. p. 134.
5 Depoimento de José Serafim de Menezes, concedido a Wanderlei Menezes e Bruno Pereira Itabaiana, 03 de agosto de 2010.

As vestimentas da Chegança Santa Cruz


          Os trajes utilizados pelos participantes da Chegança Santa Cruz de Itabaiana-SE, são confeccionados pela esposa de José Serafim de Menezes, Maria José de Jesus, com recursos próprios e seguem à imitação da Marinha, vestes brancas com detalhes em azul e dourado. O rei mouro usa manto vermelho, coroa e espada. Seus embaixadores trajam roupas brancas, trazendo uma faixa cruzada em seu peito com a indicação de seu posto.
Quanto à simbologia das cores das vestimentas, Beatriz Góis Dantas esclarece: “... onde se defrontam mouros e cristãos, não tem aqui definida função identificadora dos personagens em oposição”. Sendo assim, a variação de cores não descaracteriza o contexto do folguedo porque não há um padrão de cores a ser seguido.1
Maria José de Jesus nos conta que para confeccionar os trajes é comprada uma peça que, em geral custa caro, ou a mesma visualiza em lojas ou revistas e faz a reprodução de várias peças. Um exemplo disso foi a compra de um chapéu de marinheiro adquirido por Zé de Binel, o qual foi desmanchado para fazer o molde e assim poder confeccionar outras peças. Os trajes são guardados sob responsabilidade do líder do folguedo e utilizados especialmente em dias festivos. São adquiridos com muita dificuldade, pois os recursos financeiros do grupo são poucos, no entanto, percebe-se o zelo e a dedicação de Zé de Binel e sua esposa em manter a caracterização da Chegança.2
Além dos trajes, as duas “princesas” do grupo levam dois estandartes estampando símbolos característicos da mourama e da cristandade. 

Notas do artigo

1 DANTAS, Beatriz Góis. Cadernos de Foclore nº 14: Chegança. Rio de Janeiro: s/ed., 1985. p.07
2 Depoimento de Maria José de Jesus, concedido a Maria Antônia de Carvalho Barros e Tatiane Santana Santos. Itabaiana, 03 de junho de 2007. (Acervo das Autoras)

Chegança, folguedos e historiografia folclórica sergipana


Neste texto, apresentaremos uma visão geral dos folguedos no Estado de Sergipe, especificamente a Chegança, sobretudo enfocando a Chegança Santa Cruz de Itabaiana-SE, numa perspectiva histórica de preservação e manutenção desta como símbolo da identidade local. Sabemos da carência de estudos que nos remeta a conhecer nossas tradições que vêm sendo transmitidas através de sucessivas gerações, sempre se renovando e se recriando, num processo vivo e dinâmico, propiciando à nação a possibilidade de construir sua própria identidade
Sem uma tradição, uma coletividade pode viver ordenadamente, mas não tem consciência do seu estilo de vida. E ter consciência é poder ser socializado, isto é, é se situar diante de uma lógica de inclusões necessárias e exclusões fundamentais, num exaustivo e muitas vezes dramático diálogo entre o que nós somos (ou queremos ser) e aquilo que os outros são e, logicamente, nós não devemos ser.1
No ano de 1878, os ingleses, fundaram em Londres a Sociedade de Folclore, consideravam como objeto dos seus estudos as narrativas tradicionais (mitos, lendas, cantos populares), os costumes tradicionais (celebrações cerimoniais populares), sistemas populares de crenças e supertições (ligadas à vida e ao trabalho), sistemas e formas populares de linguagem (ditos e frases feitas). No Brasil, a maneira de se compreender o folclore é um tanto polêmico, por um lado, estende o folclore à cultura primitiva, aos mitos, lendas e cantos; por outro lado, como uma disciplina diferenciada de uma ciência, a Antropologia e não como ciência autônoma.2
Em Sergipe, o interesse maior em conhecer a nossa história, a geografia, a literatura e a cultura popular começou no início do século XX. O Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe estimulava estes estudos e em 1942, propôs a realização do I Congresso de História e Geografia de Sergipe. Este movimento continuou nos anos 1950 e até aumentou com a criação do Movimento Cultural de Sergipe (que teve como criador José Augusto Garcez) que publicou livros de autores sergipanos e descobriu novos escritores. Ao mesmo tempo, a Sociedade de Cultura Artística de Sergipe trazia para o teatro Ateneu recentemente inaugurado, artistas famosos, do Brasil e do estrangeiro. Mas deste movimento cultural, que acontecia principalmente em Aracaju, pouca gente participava, pois a maior parte da população continuava fora da escola e o analfabetismo entre os adultos era enorme. Esta década foi muito importante na história da luta pela educação. 3
A historiografia sergipana apresenta uma escassez de registros e pesquisas sobre as tradições populares, apesar de “em todas as manifestações da vida, já o dissemos, tem Sergipe lugar de destaque, qualquer que seja o empreendimento humano que se lhe aponte”. No entanto, o que se percebe é a desvalorização e o desconhecimento das manifestações artístico-populares. 4
Em geral, o que existe como fonte de pesquisa são coletâneas que tratam resumidamente os aspectos dos diversos folguedos do nosso Estado. Um exemplo é a “Revista Sergipana de Folclore”, organizada pela Comissão Sergipana de Folclore, que teve seu primeiro número lançado paralelo ao I Encontro Cultural de Laranjeiras, em agosto de 1976. No livro são tratados rituais folclóricos da festa de São Benedito, a Taieira, a Chegança, o Cacumbi e a Dança de São Gonçalo, porém de modo sintetizado.5
O I Encontro Cultural de Laranjeiras reuniu representantes de Pernambuco, Bahia, Alagoas, Rio de Janeiro, São Paulo, e naturalmente grande participação de Sergipe. O Encontro envolveu diversos municípios, registrando-se a presença de numerosos grupos folclóricos, nos desfiles; Chegança e Zabumba, de Lagarto, São Gonçalo, de Pinhão; Guerreiro, de Aracaju; São Gonçalo, Taieira e Cacumbi, de Laranjeiras; Chegança, de Itabaiana, Reisado, de Siriri; Candomblé, de Aracaju; Guerreiro e Samba de Coco, de Nossa Senhora do Socorro; Guerreiro, de Riachuelo; Batalhão e Samba de roda, de Carmópolis; Cacumbi e Maracatu, de Japaratuba. E também violeiros, emboladores de coco e poetas populares.6
O projeto elaborado para o I Encontro indicava: estudar as manifestações da cultura popular no Estado; promover as apresentações de grupos; proteger a organização de grupos em função dos Centros regionais de folclore; discutir, em alto nível, as questões fundamentais da cultura popular; fomentar o intercâmbio intermunicipal de grupos; valorizar a criação popular, em todos os níveis. Desde 1976, estudiosos e pesquisadores dos diversos pontos do Brasil reúnem-se para estudar, interpretar, contribuir para a valorização de nossa cultura popular. O que nos leva a perceber que tais objetivos permanecem atuais, porque são princípios assentados na realidade social, na dinâmica cultural, na evolução da própria sociedade. O olhar tem as suas maneiras de ver influenciadas e até determinadas pela dinâmica social. Tais objetivos firmaram-se pelo seu acerto, pela identificação com as peculiaridades culturais do país e continua a constituir o caminho por onde passam as nossas preocupações, o nosso interesse, o nosso reconhecimento dos valores de nossa cultura popular.7
Há uma produção de Beatriz Góis Dantas intitulada “Cadernos de Folclore” que trata das principais manifestações culturais de Sergipe, abordando cada uma individualmente. De modo específico, no “Cadernos de Folclore nº 14”, a autora apresenta uma visão geral da Chegança, a partir dos dados colhidos em duas cidades sergipanas: Lagarto e Laranjeiras. Nesta obra são abordados as características do folguedo enfatizando suas partes constitutivas, personagens, trajes, instrumentos musicais, coreografia, etc. Segundo a autora, a Chegança, a exemplo de outros folguedos, transmite não só um modo de crenças, mas também uma mensagem de legitimação social.8
Percebe-se que essa falta de registro constitui-se como uma lacuna em nossa historiografia e apresenta-se como um ponto negativo, pois segundo Antônio Augusto Arantes, “é justamente manipulando repertório de fragmentos de ‘coisas populares’ que, em muitas sociedades, inclusive a nossa, expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade da nação como um todo ou, quando muito, das regiões, encobrindo a diversidade e as desigualdades sociais efetivamente existentes no seu interior”.9
Certamente, esses fragmentos compõem a cultura de um povo, uma vez que cada grupo social se divide pela crença, ideologia e interesses. Isso porque as manifestações populares herdadas de gerações passadas sofrem influência das novas gerações que as interpreta, representa e recria os objetos, as concepções e práticas dando-lhes uma nova roupagem, o que constitui a expressão social de um determinado grupo.

Notas do artigo


1 DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à antropologia social. Rio de Janeiro: Rocco, 1987. p. 48.
2 BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Folclore. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982. p. 28-30.
3 OLIVA, Terezinha Alves de e SANTOS, Lenalda Andrade. Para Conhecer a História de Sergipe. Aracaju: Opção Gráfica, 1998. p.98-99.
4 SILVA, Clodomir de Souza e. Álbum de Sergipe: 1820-1920. Aracaju, 24/10/1920. (Ementa).
5 COMISSÃO SERGIPANA DE FOLCLORE. Revista Sergipana de Folclore. N. 1, ano 1. Aracaju, Agosto de 1976.
6 NASCIMENTO, Bráulio do. Os encontros culturais de Laranjeiras.In: Encontro Cultural de Laranjeiras 20 anos. Governo do Estado de Sergipe: Secretaria Especial da Cultura, 1994. p. 13-15.
7 NASCIMENTO, Bráulio do. Os encontros culturais de Laranjeiras. In: Encontro Cultural de Laranjeiras 20 anos. Governo do Estado de Sergipe: Secretaria Especial da Cultura, 1994. p. 11-13.
8 DANTAS, Beatriz Góis. Cadernos de Folclore nº 14: Chegança. Rio de Janeiro: s/ed., 1985. p. 11.
9 ARANTES, Antônio Augusto. O que é Cultura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981. p. 15.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Escritores culturais de Itabaiana


José Diniz Barreto
Etelvina Amália de Siqueira
Félix Barreto de Vasconcelos
Pe. Vicente Francisco de Jesus
José Sebrão de Carvalho (Sebrão, Sobrinho)
Maria Thétis Nunes
Alberto Carvalho
Antônio Oliveira
Robério Barreto Santos
Antonio Francisco de Jesus
José Augusto Machado
José Crispim de Souza
Emerson Vasconcelos
José Rodrigues Santos
Antonio Carlos dos Santos
Vladimir Souza Carvalho
Francisco Antonio de Carvalho Lima Júnior
José Gumercindo dos Santos
Antonio Diniz Barreto

Reisado do Bom Jardim


Nome: Reisado do Bom Jardim
Data de fundação: Ano de 1991
Endereço: Povoado Bom Jardim
Cidade: Itabaiana - Sergipe
Cep: 49500-000
Celular: 9979-4218
Responsável pelo grupo: Maria Rosa de Santana
Data de nascimento: 18/02/1937
Endereço: Povoado Bom Jardim
Cidade: Itabaiana - Sergipe
Cep: 49500-000
Celular: 9979-4218

7.2 Histórico

O Reisado do “Bom Jardim” povoado de Itabaiana uma manifestação popular e folclórica da região.
Atualmente, liderada com muito esforço pela D. Maria Rosa Santana, 72 anos. Ela não mede esforços para animar e manter viva essa tradição de origem ibérica que se instalou em Sergipe há séculos atrás.
O Reisado é composto de figurantes com vestes coloridas acompanhadas de tocadores.

O Reisado do Bom Jardim no momento se encontra desativado por falta de incentivo e recursos. Diante desse quadro, o Reisado morre para a comunidade, mas não para D. Rosa que com toda dedicação ainda guarda os retalhos que sobraram e registros.


7.3 Questionário Sócio-Cultural


Amostragem: 22 pessoas


Cor de pele:
100% Pardo (22) Pessoas

Grau de escolaridade:

32% Analfabeto (07) Pessoas
46% Ensino Básico incompleto (10) Pessoas
18% Ensino Médio incompleto (04) Pessoas
5% Ensino médio completo (01) Pessoa

Renda pessoal:
59% Não tem renda (13) Pessoas
9% Inferior a 1(um) Salário Mínimo (02) Pessoas
28% 1(um) Salário Mínimo (06) Pessoas
5% Entre 2(dois) e 4(quatro) Salários (01) Pessoa

Qual o motivo que o levou a participar deste grupo folclórico?
100% responderam (22) Pessoas
Forma de promover cultura para o município.
Forma de criar lazer numa comunidade.

Quais as contribuições que o grupo folclórico promove como benefícios para o Estado ou Município?

100% responderam (22) Pessoas
Promove a auto-estima e o sentimento de cidadania dos membros e dos habitantes do município.
Dinamiza os espaços culturais dos municípios.
Promove o nome da cidade em eventos municipais, estaduais e até mesmo nacionais.
Desenvolve ações que geram documentações e registros nas comunidades que atuam.

Atualmente a sustentabilidade do grupo dispõe de quais recursos?

100% responderam (22) Pessoas
Recursos públicos municipais

Quais as atuações do grupo?

100% responderam (22) Pessoas
Todos os eventos culturais.
Atua de forma ativa em eventos municipais, estaduais e nacionais.

Você participa a quanto tempo do grupo?

50% Inferior a 1 ano (11) Pessoas
23% 1 a 5 anos (05) Pessoas
9 % 5 a 10 anos (02) Pessoas
9% 10 a 15 anos (02) Pessoas
9% 15 a 20 anos (02) Pessoas

Idade

41% De 08 a 15 anos (09) Pessoas
9% De 20 a 30 anos (02) Pessoas
9% De 40 a 50 anos (02) Pessoas
5% De 50 a 60 anos (01) Pessoa
23% De 60 a 70 anos (05) Pessoas
9% De 70 a 80 anos (02) Pessoas
5% De 80 a 90 anos (01) pessoa

Conclusão:

Com base nos dados colhidos, o grupo folclórico “Reisado Bom Jardim” é composto por membros pardos, com ensino básico incompleto, não possuem renda e participam do grupo no período de tempo de um ano.
Esse grupo folclórico divulga o nome da cidade nos eventos municipais, estaduais e inclusive nacionais, atuando ativamente nos eventos, proporcionando a auto-estima e o sentimento de cidadania dos membros e dos habitantes dos municípios.
A sustentabilidade do grupo vem de recursos públicos municipais.