segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A Igreja Velha de Itabaiana e tradições culturais



Qual o morador de Itabaiana que nunca ouviu falar da Igreja Velha? Uns dirão que é um povoado; outros, por sua vez, mencionarão que ai há uma igreja em ruínas num pasto. Porém, poucos sabem que aqueles escombros presenciaram importantes passagens de nossa História e que têm um valor simbólico incomensurável.

Nos primeiros anos do século XVII começa a haver a presença mais numerosa dos agentes metropolitanos da Coroa Portuguesa nas regiões próximas à Serra de Itabaiana. Esses homens vieram ocupar as terras outrora pertencentes aos nativos. Ao que tudo indica, eram pequenos lavradores, aventureiros em busca da fortuna fácil com as propaladas riquezas minerais da Serra de Itabaiana, criadores de gado, negros fugidos e etc. Foram eles os construtores da Igreja Velha. Não se sabe ao certo a data em que foi construído o primeiro templo cristão do agreste e sertão sergipano, mas certamente foi anterior a 1642, pois, no mapa do holandês Barleu, já aparecia a indicação, no mesmo local onde atualmente se situa a Igreja Velha, de uma igreja que tinha por orago Santo Antonio. Uma coisa é certa: A igreja Velha é a mais antiga construção legada por nossos antepassados ainda existente.

Os que visitam as ruínas da primeira igreja de Itabaiana percebem que o pequeno templo foi construído de modo bastante simples. As paredes foram feitas com pedras talhadas e argila como “cimento”. O telhado, ao que parece, deveria ser de palha e madeira. A Igreja foi erguida num local estratégico com privilegiada visão, próximo a fontes permanentes de água (nas proximidades dos rios Jacarecica e Lomba), e numa área central e elevada. O único objeto bem preservado do antigo templo de Santo Antonio é a imagem de Nosso Senhor da Coluna Verde, que se encontra salvaguardada num importante museu de nosso Estado.

O destino da Igreja Velha mudaria com a criação, em 1665, da Irmandade das Santas Almas do Fogo do Purgatório de Itabaiana. Como a rústica igreja era pertencente a particulares, a Irmandade resolveu comprar o terreno Caatinga de Aires da Rocha, dez anos depois de sua fundação, ao pároco da cidade de São Cristovão, Sebastião Pedroso de Gois, para construir um templo sobre seu comando.

Em 1675, existiam duas igrejas de Santo Antonio em Itabaiana: a velha e a nova – esta última se tornará a Matriz de Santo Antonio e Almas de Itabaiana. No ano anteriormente citado, a recém criada igreja ganhou a condição de freguesia. Essa trama arquitetada pela Irmandade foi o golpe crucial para o crescente esvaziamento de importância do primeiro templo cristão das plagas serranas. Em 1757, a Igreja Velha já estava em ruínas. Como o tempo implacavelmente deforma as formas, o primitivo templo foi paulatinamente desabando. A Igreja Velha vive sua agonia silenciosa há quase três séculos e meio. O velho templo resistiu a tantas adversidades e se mantém de pé, esperando ser tombado para não tombar. A tradição popular explica esse fenômeno histórico de perca de importância da Igreja Velha pela Igreja de Santo Antonio e Almas pela lenda de Santo Antonio fujão.

Atualmente, há em Itabaiana várias igrejas cristãs dos mais variados cultos, quase uma por bairro ou povoado, mas a Igreja Velha é especial por um simples motivo: foi com ela que tudo começou.