A região de Itabaiana tornou-se uma espécie de eldorado. A história
das minas de prata da Serra de Itabaiana nunca descobertas sempre
aguçaram o imaginário dos que passaram por Itabaiana.
A popularização das minas de prata deve se muito ao livro “Meu
Sergipe: Ensino de História e Chorografia de Sergipe” de Elias
Montalvão (1928), obra adotada pelas escolas públicas do estado,
durante as primeiras décadas do século XX. Neste livro há um
capítulo intitulado “O Thesairo”
“... No Sertão do Rio Real, morava Belchior Dias
Moreya.
Este homem fez uma excursão a várias paragens e
descobriu ouro, prata, pedras preciosas e salitre.
Em seguida, espalhou a notícia de haver encontrado as
minas e pretendia ser agraciado por el-Rei, com o título de Márquez
das Minas.
(...) Governando Pernambuco estava D. Luiz de Souza que,
tendo sciencia do grande descobrimento de Belchior, a este escreveu
promettendo que ia se empenhar, a fimi de conseguir de el-Rei a mercê
desejada.
D. Luiz de Souza escreveu depois a Belchior, dizendo já
haver obtido a mesma e que estava de posse do título, para
entregar-lhe quando elle mostrasse o local das minas.
(...) Em companhia de D. Luiz de Souza, foi também seu
primo D. Francisco de Souza, governador da Bahia.
Ambos foram guiados e acompanhados por Belchior, ao
qual, em caminho, um pagem particular de um dos governadores que,
conversando estes sobre a mercê almejada, dissera um delles ao
outro:
Mostre elle as minas, que o caboclo para quer mercê?
Chegaram todos à Serra de Itabaiana.
Ahi, disse Belchior que somente mostrava a logar das
minas depois que recebesse o título“. (MONTALVÃO: 1928, p. 21).
A descrição feita por Montalvão foi baseada em documentos, mais
precisamente na carta do Coronel Pedro Barbosa Leal (1725). De
maneira simples as façanhas de Belchior Dias Moréia são narradas.
Em nível nacional, o romance “As Minas de Prata” de José de
Alencar cita a da cobiça e o sonho das minas e muito tempo antes de
Capistrano de Abreu, já se referiu a Belchior Dias Moréia, pai de
Robério Dias, que teve seu nome relacionado aos feitos do pai:
Estas famosas Minas de Prata do Brasil, que tanto mal
têm feito, excitando a cobiça de uns e causando a desgraça de
outros, fazendo que reis esqueçam seus povos e sacerdotes, sua
divina missão, foram achadas em 1587 por vosso avô, o Moribeca, de
uma maneira que ainda hoje se ignora.
Ah! Não foi meu pai! (ALENCAR, 1959, p. 73)
O legado em longo prazo de tantas investidas produziu lendas, dentre
as quais uma é de fundamental importância e é bastante
representativa do poder dessas expedições no imaginário popular. É
o caso de lenda do Carneiro de ouro. Bastante antiga, ela foi
transmitida de geração a geração. Nesse sentido, o exercício do
devaneio em torno de uma lenda que funciona como um elo com o
natural, leva ao homem o dominar e ser dominado pela natureza, fonte
de motivação e imaginário (LOUREIRO, 2001).
A transmissão das lendas, conforme LA PLANTINE (1999), são formas
de tradição oral. No caso da lenda do Carneiro de Ouro mostra-se
evidentemente ser um produto de uma sociedade que viveu o
aventureismo, ocasionado pela cabeça.
Uma das descrições sobre a misteriosa Serra de Itabaiana e os
ocultos tesouros nos oferece Clodomir Silva:
“há de ouvir ainda hoje, em pleno século das
maravilhas, as lendas do carneiro de ouro e da moça encantada que os
atuais habitantes referem pelo as haverem ouvido de seus maiores, que
lhes falavam do tempo em que a serra, estourando de 7 em 7 anos,
fazia bater às portas do casario da cidade serrana, fragmentos de
ouro volumosos e grandes” (SILVA, 1926, pág. 21).
Já em Olímpio Rabelo (1926), a lenda é narrada um pouco diferente.
Em uma dada hora do dia, o sol batia na frente da serra e, em
seguida, aparecia se movendo uma figura amarelada, parecendo um
carneiro de ouro. Segundo esse autor essa “figura” saia do limo
das escarpas e o fato de haver muito limo não permitiu mais se ver o
fenômeno.