Qual o
morador de Itabaiana que nunca ouviu falar da Igreja Velha? Uns dirão
que é um povoado; outros, por sua vez, mencionarão que ai há uma
igreja em ruínas num pasto. Porém, poucos sabem que aqueles
escombros presenciaram importantes passagens de nossa História e que
têm um valor simbólico incomensurável.
Nos
primeiros anos do século XVII começa a haver a presença mais
numerosa dos agentes metropolitanos da Coroa Portuguesa nas regiões
próximas à Serra de Itabaiana. Esses homens vieram ocupar as terras
outrora pertencentes aos nativos. Ao que tudo indica, eram pequenos
lavradores, aventureiros em busca da fortuna fácil com as propaladas
riquezas minerais da Serra de Itabaiana, criadores de gado, negros
fugidos e etc. Foram eles os construtores da Igreja Velha. Não se
sabe ao certo a data em que foi construído o primeiro templo cristão
do agreste e sertão sergipano, mas certamente foi anterior a 1642,
pois, no mapa do holandês Barleu, já aparecia a indicação, no
mesmo local onde atualmente se situa a Igreja Velha, de uma igreja
que tinha por orago Santo Antonio. Uma coisa é certa: A igreja
Velha é a mais antiga construção legada por nossos antepassados
ainda existente.
Os que
visitam as ruínas da primeira igreja de Itabaiana percebem que o
pequeno templo foi construído de modo bastante simples. As paredes
foram feitas com pedras talhadas e argila como “cimento”. O
telhado, ao que parece, deveria ser de palha e madeira. A Igreja foi
erguida num local estratégico com privilegiada visão, próximo a
fontes permanentes de água (nas proximidades dos rios Jacarecica e
Lomba), e numa área central e elevada. O único objeto bem
preservado do antigo templo de Santo Antonio é a imagem de Nosso
Senhor da Coluna Verde, que se encontra salvaguardada num importante
museu de nosso Estado.
O
destino da Igreja Velha mudaria com a criação, em 1665, da
Irmandade das Santas Almas do Fogo do Purgatório de Itabaiana.
Como a rústica igreja era pertencente a particulares, a Irmandade
resolveu comprar o terreno Caatinga de Aires da Rocha, dez
anos depois de sua fundação, ao pároco da cidade de São
Cristovão, Sebastião Pedroso de Gois, para construir um templo
sobre seu comando.
Em 1675,
existiam duas igrejas de Santo Antonio em Itabaiana: a velha e a nova
– esta última se tornará a Matriz de Santo Antonio e Almas de
Itabaiana. No ano anteriormente citado, a recém criada igreja ganhou
a condição de freguesia. Essa trama arquitetada pela Irmandade foi
o golpe crucial para o crescente esvaziamento de importância do
primeiro templo cristão das plagas serranas. Em 1757, a Igreja Velha
já estava em ruínas. Como o tempo implacavelmente deforma as
formas, o primitivo templo foi paulatinamente desabando. A Igreja
Velha vive sua agonia silenciosa há quase três séculos e meio. O
velho templo resistiu a tantas adversidades e se mantém de pé,
esperando ser tombado para não tombar. A tradição popular explica
esse fenômeno histórico de perca de importância da Igreja Velha
pela Igreja de Santo Antonio e Almas pela lenda de Santo Antonio
fujão.
Atualmente,
há em Itabaiana várias igrejas cristãs dos mais variados cultos,
quase uma por bairro ou povoado, mas a Igreja Velha é especial por
um simples motivo: foi com ela que tudo começou.