Nascia em 1821, um dos mais emblemáticos
personagens da História de Itabaiana. Não foi político, nem intelectual, nem
tem seu nome em logradouro algum, mas tornou-se notável. Seu nome era Antonio
José Dias, vulgo Mata Escura, moço pardo, assassino e ladrão profissional. Foi
esse itabaianense, até onde sabemos, o primeiro sergipano não-escravo a ser
executado depois de sofrer condenação à pena de morte.
Muito cedo abandonou o lar a fim de seguir
a lendária carreira criminosa. Aos 17 anos, é contratado para assassinar o
delegado Luiz Gonzaga de Medeiros Costa, porém acabou matando Tertuliano, filho
de Luiz Gonzaga de apenas quatro anos. No ano seguinte, entrou para a quadrilha
de salteadores e assassinos das matas de Itabaiana e Santa Rosa. Esta
organização criminosa durante a primeira metade do século XIX tirou o sono das
autoridades policiais. Eram seus parceiros os temidos Chicão, Joaquim Veado e
Manoel Antônio. Como este último praticou o crime mais cruel. Em 17 de setembro
de 1841, assassinou José Francisco, morador do sítio Capunga e irmão de Manoel
Antonio. A vítima padeceu com três tiros de bacamarte e mais de vinte facadas.
Quatro anos depois, Mata Escura era preso, juntamente com o irmão, após ter
matado um dos mais potentados senhores de engenho de Laranjeiras.
Em 1846, era condenado à morte pelo júri
de Itabaiana. Tentou recorrer, inutilmente, a clemência do imperador D. Pedro
II. Aos oito dias do mês de março de 1847 seria enforcado em praça pública. Escoltado
com a corda no pescoço por um destacamento, agrilhoado nos pés e com as mãos
presas, Mata Escura era conduzido pelas principais ruas da vila de Itabaiana. A
forca estava armada na praça, a poucos metros da Igreja Matriz. O povo e as
autoridades se acotovelavam ao pé do mortal instrumento para assistirem o
espetáculo sinistro.
Era por volta de uma hora da tarde do
fatídico dia quando o condenado subiu os degraus do patíbulo. Na mortal
instrumento, Mata Escura, resignado, culpou a mãe por seu cruel destino, acusou
a justiça de proteger os ricos e assumiu a autoria de nove crimes. Tentou ainda
em vão suicidar-se, mas foi impedido pelo confessor, um criminoso do mesmo
nível do condenado. Por fim, sofreu o empurrão fatal. Aqueles que se achavam
próximo à forca ouviram o estalejar das vértebras do criminoso. O corpo sem
vida do padecente foi mantido por mais de uma hora a pendular na corda. O
cadáver do criminoso foi depositado numa vala comum.
O pardo Antonio José Dias foi
assassinado aos 26 anos de idade, analfabeto, não deixou filho, esposa ou bens.
Legou apenas a memória de seus feitos que foi registrada por romancistas,
jornalistas e historiadores. Irrefragavelmente, é um dos mais conhecidos
personagens históricos do século XIX de Itabaiana. Quem sabe um dia não
receberá nome de logradouro, afinal grandes assassinos são homenageados e até
idolatrados em Itabaiana, a exemplo do General João Pereira, Otoniel Dorea,
Manoel Leite Sampaio e outros.