O Açude da Macela é um dos 75 povoados do município de
Itabaiana. Situado na área central mais a norte. Faz fronteira com o perímetro
urbano de Itabaiana, ao sul e leste; Povoados Nicó e Gravatá, a oeste; e a
norte e a leste povoados Pé do Veado, Terra Vermelho e Canário.
O nome deve-se ao Riacho da Macela. Há duas versões para o topônimo. A primeira, mais plausível, é que o nome faz referência à planta macela (Achyrocline satureioides), também conhecida por macela-do-campo, macelinha, macela de travesseiro, carrapichinho-de-agulha e camomila nacional. Esse arbusto de coloração amarelada com cerca de um centímetro de diâmetro florescendo em pequenos cachos. As folhas são finas e de cor verde-claro, meio acinzentada, que se destaca do restante da vegetação do campo, havia em abundância no antigo Riacho da Macela e ainda pode ser visto nos dias atuais. Temos também informações de antigos moradores sobre a existência de uma bela jovem de nome Marcela que teria herdado de seu pai toda aquela área. Com isso, a origem do topônimo é uma incógnita. Contudo, acreditamos que Açude da Macela deve ser entendido como derivado das palavras Açude (que só surgiu em 1958) e Macela (nome primitivo do riacho onde foi edificado o açude).
Discordamos de alguns estudos que situam o início da história
do povoado Macela em meados da década de 50. A história da Macela é tão antiga
quanto à de Itabaiana. Na demarcação do patrimônio da Irmandade das Almas,
instituição religiosa fundada em 1665, que dez anos depois adquiriu o sítio
“Catinga de Aires da Rocha” ao vigário Sebastião Pedroso de Gois, temos como
limite norte do dito terreno, que futuramente dará origem ao atual centro de
Itabaiana, o Riacho da Macela. Sendo assim, esse local teve sempre uma função
histórica de ser o ponto intermediário entre a zona urbana e rural de
Itabaiana.
Há referências a existência de grande povoamento da região
desde o final do século XVIII. Nessa época, a região onde atualmente se situa
os povoados Pé-do-veado e Terra Vermelha, circunvizinhos ao Açude da Macela,
era bastante povoada e por famílias de alto prestígio social na vila de
Itabaiana, a exemplo da família Carvalho.
Contudo, não temos informações sobre proprietários de terras onde hoje
se situa o riacho da Macela.
A história da Macela tomaria outro rumo na década de 50 do
século passado. Assumia a Prefeitura de Itabaiana o udnista Euclides Paes
Mendonça. Homem pouco instruído, porém com larga visão progressista, Euclides
resolveu enfrentar o problema da seca e modernização da agricultura familiar
lutando pela construção de um açude público em Itabaiana. O município tinha
apenas um açude próximo ao perímetro urbano, era o Açude Velho, construído no
final do século XIX. A construção do Açude surge em decorrência das secas. A
escassez de água era um dos mais sérios problemas enfrentados pela população de
Itabaiana. A falta de água travava o desenvolvimento econômico. A ideia foi bem
recebida pelos itabaianenses, porém faltava conseguir os recursos e apoio do
governo estadual e federal para concretizar a obra.
Em 1945 era criado o Departamento Nacional de Obras Contra a
Seca (DNOCS), em substituição a Inspetoria Federal de Obras contra a seca
(IFOCS). O DNOCS foi transformado em Autarquia Federal em 1963, através da lei
4.229 (de 01/06/1963). Foi esse órgão federal que centrou as atividades de
montagem de infra-estrutura de obras públicas de combate à seca por meio da
construção de açudes públicos, represas e perfuração de poços artesianos. O
DNOCS foi órgão responsável pela obra.
As primeiras atitudes em relação à obra começam no ano de
1952. Foram longos seis anos para a obra sair do papel. Merece destaque a ação
do prefeito Euclides Paes Mendonça que mobilizou seus aliados para ver a obra
concluída mais rapidamente. Sobre os trabalhos para a construção do açude, o
escritor Renato Mazze Lucas deixou importantes descrições acerca da vida dos
trabalhadores braçais no conto “Açude”. Em 1958 era finalmente inaugurado o
Açude. Grande foi a procura pelas terras próximas ao Açude da Macela. A
barragem do açude da Marcela apresentava um volume médio de 2.135.200 m3,
abrangendo 24 km2. Possui um coroamento de 710 metros e uma largura
de 4 metros, com sangradouro de 16 metros e profundidade máxima de 14 metros.
No período da Ditadura Militar, houve a tentativa de
modernização da agricultura através da mudança nas relações técnicas e sociais
de produção. Essas transformações foram absolvidas pelos sitiantes do açude.
Além das técnicas tradicionais, tivemos ainda o uso de novos insumos,
corretivos de solo, mecanização de preparo de solo, uso de defensivos agrícolas
e fertilizantes. Cabe mencionar também, o apoio do governo através de linhas de
crédito aos pequenos e grandes produtores, através do FUNRURAL. Com isso, a
produção local cresceu consideravelmente e o Açude da Macela era o principal
perímetro irrigado do agreste sergipano. Contudo, esse processo criou os germens
para o enfraquecimento do solo e degradação ambiental
Cabe destacar a importância da atividade de piscicultura que
fora desenvolvida nas décadas de 70 e 80 e 90 no açude da Marcela. A pesca era
a segunda mais importante atividade desenvolvida naquela área. Os pescadores vinham
ao Açude e vendiam o fruto do trabalho nas feiras de todo o Estado de Sergipe.
Em 1983, devido às vigorosas secas, o açude chegou a secar.
Porém, no final da década de 80 era comum as constantes cheias que deixava a
comunidade açudemacelense em situação de difícil acesso e até mesmo ilhados. Nessa
época, o precário sistema de esgoto da cidade de Itabaiana é canalizado para o
Açude da Macela. Começava ai a história de degradação ambiental que levaria ao
estado que o Açude se encontra nos dias atuais.
Na década de 90, tivemos a implantação de três cerâmicas nas
margens do açude. O despejo diário de consideráveis volumes de dejetos
sanitários e industriais, produzido pela cidade, e o uso indiscriminado de
agrotóxicos e fertilizantes, ocasionaria em 1994 o início da perca da
produtividade agrícola do Açude da Macela. O que se observou nos anos seguintes
foi a geométrica poluição das águas do açude e a desestruturação da produção
agrícola. O enorme êxodo rural confirma a perca de importância da outrora zona
produtora de verduras e hortaliças de Itabaiana.
No começo deste século buscou-se revitalizar o Açude da
Macela. A Prefeitura de Itabaiana buscava conseguir recursos federais para
despoluir o açude e assim fortalecer o perímetro irrigado da Macela. Em 2006,
com a elaboração do Plano Diretor Municipal, O Açude da Macela deixa de
pertencer à zona rural para ser integrado ao perímetro urbano da cidade. Com isso,
é criado o Bairro Macela.
Nas vizinhanças do Açude existem ainda pequenas propriedades,
habitada por modestos sitiantes que se beneficiam das suas águas para a prática
da irrigação. As culturas mais importantes são as de tomates, repolho,
hortaliças (alface, coentro e etc), quiabo, batata e pimentão.
Atualmente, o Açude da Macela é um local praticamente despovoado.
As atividades agrícolas estão em franca decadência, cedendo espaço para a
criação de animais. Ainda há alguns moradores que desafiam as adversidades. A
situação da (in) segurança e dos impactos ambientais (e sociais) são as
principais causas do êxodo ocorrido nas duas últimas décadas. O Açude da Macela
de hoje é um triste capítulo na história de Itabaiana; nem lembra os tempos
gloriosos da segunda metade do século passado, onde ter terras na “Macela” era
sinal de prestígio e orgulho.
Referências
Bibliográficas
BORGES,
Sérgio dos Santos. Agrotóxicos,
sociedade e natureza: a problemática do perímetro irrigado da Marcela. São
Cristóvão, 1995. Dissertação de Mestrado (Núcleo de Pós-graduação em Geografia.
Universidade Federal de Sergipe;
GOIS,
Maria Euza de Menezes. “A glória do
passado e a tristeza do presente”: memórias do perímetro irrigado do Açude
da Marcela em Itabaiana-SE (1958-1980). São Cristóvão, 2002. Monografia
(Departamento de História). Universidade Federal de Sergipe;
JESUS,
Edneusa Santos de. Relações
sociedade/natureza no Açude da Macela-SE. Itabaiana, 2002. Monografia
(Departamento de Geografia). Universidade Federal de Sergipe;
LUCAS,
Renato Mazze. Açude. In: Anum Prêto.
Rio de Janeiro: Leituras S.A, 1967. P.33-41;
MENEZES,
Wanderlei. Breves notas para a História
do Açude da Marcela. Itabaiana: sd, 2008. (trabalho inédito)